quinta-feira, 22 de abril de 2010

Manhã

Eram sete horas da manhã e havia um cara de cabelos longos, barba por fazer sentado no banco da praça vendo os carros e as pessoas passarem. Ao seu lado um copo com um líquido preto que pela fumaça produzida parecia estar quente, talvez um café para amenizar o frio pós madrugada chuvosa que fazia já que ele estava com um short estilo anos 80(daqueles que só cobrem até a metade da coxa), e uma camiseta sem manga que deixava à mostra suas tatuagens.
Uma dúvida parecia transtornar sua mente e impedia que ele se concentrasse em algo fazendo com que fosse impossível saber em que ele estava pensando, muitas pessoas que por ali passaram olharam e pareciam tentar captar os pensamentos dele, mas era impossível saber o que se passava com ele, eu acho que nem mesmo ele sabia o que estava se passando ali dentro já que uma explosão de sentimentos transbordava por seus olhos, sorrisos, gestos desesperados, feições de pura esperança.
Ele ficava olhando tudo ao seu redor e parecia pensar profundamente sobre tudo que suas vistas reparavam: os carros passando, as pessoas indo trabalhar, crianças e adolescentes uniformizados à caminho da escola, idosos fazendo caminhada... E a cada reflexão um gole na bebida que já estava gelada, mas parecia queimar mesmo assim talvez fosse alguma mistura alcóolica. Um gole...
Em que será que aquela figura estereotipada estava pensando?
Talvez ele perdera alguém muito querido, um parente, um amigo. A expressão no rosto não demonstrava uma dor desse tipo, mas algumas horas ele deixava escapar um ar de questionamento da vida quase que suicida e ao mesmo tempo trazia uma olhar de esperança acalantador. Outro gole...
Poderia também ter perdido o amor da sua vida, seu olhar de Romeo sem Julieta observando os pássaros parecia coisa de apaixonado à moda antiga, talvez ele estivesse parado ali por saber que ela passaria por ali e vê-la novamente poderia ser confortante, mas ao mesmo tempo ele parecia pensar que um olhar poderia fazer doer mais ainda aquela ferida aberta e mesmo assim queria correr o risco. Outro gole...
Da forma como ele olhava as pessoas uniformizadas rumo ao trabalho parecia que havia perdido o emprego e estava com contas e família gerando números cada vez mais distantes de sua realidade, ou apenas pensava em sair do emprego que não lhe fazia bem e que mesmo assim era o melhor que conseguira. Outro gole...
Poderia ser que fora obrigado à largar a faculdade e se distanciar do sonho de se formar e trabalhar fazendo o que gostava que lhe acompanhava desde a infância. Um problema de saúde, a falta de estrutura, a desilusão de conhecer um lado nunca antes imaginado que lha afetaria e ipediria de continuar. Outro gole...
O medo de envelhecer ou de morrer sem saber pra que veio ao mundo, ou de chegar à terceira idade com uma saúde precária e não poder fazer suas caminhadas matinais também, o medo de não ter coisas boas pra contar para os filhos e netos, o medo de nem chegar tão longe. Outro gole...
Ninguém sabia mesmo o que se passava com ele nem mesmo eu, pois se eu soubesse, não estaria sentado às sete horas da manhã em um banco de praça tomando café com conhaque...

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